O uso de medicamentos para disfunção erétil, como o Viagra (Sildenafila) e o Cialis (Tadalafila), tem sido tradicionalmente associado a homens mais velhos que enfrentam dificuldades na vida sexual devido a fatores como idade, problemas circulatórios ou doenças crônicas. No entanto, uma nova tendência vem chamando a atenção em São Paulo: cada vez mais jovens relatam o uso frequente dessas substâncias em bares e festas.
A prática, que antes era restrita a casos médicos específicos, tem sido incorporada ao consumo recreativo, muitas vezes combinada com álcool e outras substâncias. O objetivo? Aumentar o desempenho sexual e prolongar a ereção. Mas quais são os riscos envolvidos? Por que tantos jovens estão aderindo a esse comportamento?
“Todo mundo já toma”: A normalização do uso recreativo
O relato de jovens paulistanos indica que o uso de medicamentos para disfunção erétil está se tornando comum nas noites da capital. Em conversas informais, é fácil encontrar quem admita já ter utilizado a substância, mesmo sem qualquer diagnóstico de disfunção erétil.
“Eu comecei a tomar depois que um amigo sugeriu. Ele disse que ajudava a durar mais na cama e que todo mundo já tomava”, afirma Lucas*, 24 anos, frequentador assíduo de baladas na Vila Madalena. Segundo ele, a prática se tornou comum em seu círculo de amigos, que vê o medicamento como um “impulso extra” para a performance sexual.
Essa normalização do uso entre jovens é preocupante, pois indica uma mudança de comportamento impulsionada por fatores psicológicos, sociais e até pela pressão estética em relação ao desempenho sexual.
A pressão por desempenho e a busca por segurança
Muitos jovens alegam que recorrem ao uso desses remédios não apenas para melhorar a performance, mas também para evitar falhas em momentos íntimos. A ansiedade de desempenho sexual, um problema cada vez mais comum, leva ao medo de não conseguir manter uma ereção ou satisfazer a parceira.
O uso recreativo de Viagra ou Tadalafila proporciona uma sensação de segurança, fazendo com que o jovem se sinta mais confiante. “Com a pressão de redes sociais, filmes e até conversas entre amigos, parece que o homem precisa ser um ‘máquina’ na cama. Eu não queria correr o risco de falhar”, comenta Rafael*, 22 anos.
Porém, especialistas alertam que o uso frequente pode gerar dependência psicológica. O indivíduo pode passar a acreditar que só conseguirá ter uma boa relação sexual caso tome o medicamento, comprometendo sua autoconfiança natural.
Os riscos à saúde: Misturar remédios com álcool e outras substâncias
O maior perigo do uso indiscriminado desses medicamentos está na combinação com outras substâncias, como álcool e drogas recreativas. Muitos jovens tomam Viagra antes de sair para festas e consomem bebidas alcoólicas sem se preocupar com as possíveis interações.
“Os medicamentos para disfunção erétil funcionam dilatando os vasos sanguíneos para aumentar o fluxo de sangue ao pênis. O álcool, por outro lado, pode diminuir essa circulação, o que pode causar quedas bruscas de pressão e até desmaios”, explica o urologista Dr. André Vasconcellos.
Além disso, a mistura de remédios como Viagra com drogas como ecstasy ou cocaína pode levar a efeitos colaterais graves, como taquicardia, arritmia e risco de ataque cardíaco. Há relatos de casos de overdose relacionados ao uso combinado dessas substâncias.
Outro risco significativo é o uso sem prescrição médica. Muitas dessas substâncias são compradas ilegalmente em farmácias clandestinas ou pela internet, sem qualquer controle de qualidade. Isso aumenta a probabilidade de consumo de medicamentos falsificados, que podem conter substâncias nocivas à saúde.
O impacto na saúde mental e sexual
Além dos riscos físicos, o uso recreativo de medicamentos para disfunção erétil pode afetar negativamente a saúde mental e a vida sexual a longo prazo. O cérebro pode se acostumar com a necessidade de um “gatilho químico” para estimular a ereção, o que pode prejudicar a capacidade natural do corpo de responder à excitação.
Psicólogos alertam que o uso contínuo pode gerar um efeito rebote, onde o jovem passa a enfrentar dificuldades de ereção justamente porque seu corpo se tornou dependente do medicamento. “Se o uso desses remédios se torna um hábito, a pessoa pode desenvolver uma forma de ansiedade de desempenho, onde sente que sem o remédio não conseguirá ter uma relação satisfatória”, explica a psicóloga Carla Mendes.
Além disso, a banalização do uso pode mascarar problemas emocionais mais profundos, como baixa autoestima, insegurança ou questões de relacionamento.
Mitos e verdades sobre o uso de Viagra por jovens
Muitas crenças erradas cercam o uso de medicamentos para disfunção erétil entre jovens. Aqui estão alguns mitos e verdades sobre o tema:
- Mito: Viagra aumenta o desejo sexual
- Verdade: O medicamento apenas melhora o fluxo sanguíneo para o pênis, mas não tem efeito sobre a libido. Se a pessoa não estiver excitada, o remédio não terá efeito.
- Mito: Não há problema em usar Viagra sem prescrição médica
- Verdade: O uso sem recomendação médica pode ser perigoso, pois cada pessoa tem um histórico de saúde diferente. Problemas cardíacos, por exemplo, podem ser agravados pelo uso indevido.
- Mito: Quanto mais Viagra, melhor o desempenho sexual
- Verdade: O consumo excessivo pode causar efeitos colaterais graves, como dores de cabeça, tontura e até priapismo (ereção prolongada e dolorosa que requer atendimento médico urgente).
- Mito: Tomar Viagra uma vez não causa dependência
- Verdade: Apesar de não causar dependência química, o uso recorrente pode levar à dependência psicológica, afetando a autoconfiança do usuário.
Alternativas para melhorar o desempenho sexual de forma saudável
Especialistas recomendam que jovens preocupados com seu desempenho sexual adotem hábitos mais saudáveis, em vez de recorrer a medicamentos sem necessidade. Algumas alternativas incluem:
- Praticar exercícios físicos: A atividade física melhora a circulação sanguínea e a saúde cardiovascular, essenciais para um bom desempenho sexual.
- Evitar o consumo excessivo de álcool e cigarro: Essas substâncias prejudicam a circulação e podem levar a dificuldades de ereção.
- Cuidar da saúde mental: Ansiedade e estresse são fatores que afetam a vida sexual. Terapia pode ajudar a lidar com essas questões.
- Manter uma boa alimentação: Alimentos ricos em antioxidantes, como frutas vermelhas e vegetais, ajudam a melhorar a circulação sanguínea.
- Conversar abertamente sobre o tema: A comunicação honesta com a parceira(o) pode reduzir a pressão por desempenho e melhorar a experiência sexual.
Conclusão
O aumento do uso recreativo de medicamentos para disfunção erétil entre jovens em São Paulo é um fenômeno preocupante, que reflete a pressão social sobre o desempenho sexual e a busca por segurança na intimidade. No entanto, o consumo indiscriminado pode trazer riscos sérios à saúde física e mental.
É essencial que haja mais conscientização sobre os perigos do uso sem prescrição médica e que os jovens sejam incentivados a buscar alternativas mais saudáveis para melhorar sua vida sexual. Afinal, o verdadeiro prazer deve vir da conexão genuína e do bem-estar, e não da dependência de substâncias químicas.