A recente declaração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que “coisas acontecerão” se a Rússia não cessar seus ataques à Ucrânia, reacendeu o debate sobre o papel dos EUA no conflito que já dura mais de três anos. Em um pronunciamento na Casa Branca, Trump foi evasivo ao ser questionado sobre a possibilidade de novas sanções contra Moscou, afirmando que prefere esperar uma semana para responder, pois está focado em alcançar um acordo de paz. A vagueza de suas palavras, combinada com a pressão por negociações rápidas, reflete a abordagem característica do presidente, que mistura diplomacia assertiva com mensagens ambíguas.
Desde o início de seu segundo mandato, em janeiro de 2025, Trump tem enfatizado sua intenção de pôr fim à guerra na Ucrânia, um conflito que ele descreve como “ridículo” e “desnecessário”. Durante sua campanha, ele chegou a afirmar que poderia resolver a questão “em 24 horas”, embora mais tarde tenha admitido que a promessa era “um pouco sarcástica”. Agora, com a Rússia controlando cerca de 20% do território ucraniano, incluindo a Crimeia e partes de Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporíjia, o presidente americano busca um cessar-fogo que congele as linhas de frente atuais, enquanto pressiona tanto Moscou quanto Kiev a fazerem concessões.
A postura de Trump, no entanto, gera preocupações entre aliados da Ucrânia, especialmente na Europa. Sete países, incluindo Reino Unido, França e Alemanha, já manifestaram a necessidade de serem incluídos em qualquer negociação, destacando que a Ucrânia deve estar em posição de força para garantir um acordo justo. A exclusão de Kiev de algumas rodadas de diálogo, como sugerido em conversas entre Trump e o presidente russo Vladimir Putin, contraria as declarações do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, que insiste que “não pode haver negociações sobre a Ucrânia sem a Ucrânia”.
Outro ponto sensível é a questão territorial. Ao ser perguntado se a Ucrânia deveria ceder territórios para garantir a paz, Trump permaneceu vago, dizendo que “depende do território” e que recuperar áreas como a Crimeia seria “muito difícil”. Essa posição alimenta temores de que os EUA possam pressionar Kiev a aceitar perdas territoriais significativas, especialmente após Trump sugerir, em entrevista à Fox News, que a Ucrânia poderia “ser russa algum dia”. Tais comentários contrastam com o apoio militar robusto fornecido pelos EUA sob a administração de Joe Biden, que incluiu mísseis de longo alcance e inteligência estratégica.
A ameaça de novas sanções, mencionada por Trump, também enfrenta ceticismo. A Rússia já está sob as sanções ocidentais mais pesadas de sua história, e Moscou tem contornado essas restrições ao vender petróleo com desconto para países como Índia e China. Além disso, a economia russa, embora pressionada, demonstrou resiliência, o que reduz o impacto de medidas adicionais. Analistas como Frank Gardner, da BBC, argumentam que as ameaças de Trump são mais retóricas do que práticas, especialmente quando comparadas à suspensão da ajuda militar americana à Ucrânia, anunciada em março de 2025.
Apesar das incertezas, Trump mantém uma linha de diálogo com Putin, com quem diz ter um “bom relacionamento”. Conversas telefônicas e reuniões mediadas por enviados especiais, como Steve Witkoff, indicam que os EUA estão dispostos a oferecer incentivos, como alívio parcial de sanções, para garantir um cessar-fogo. No entanto, Putin tem exigido condições que Kiev considera inaceitáveis, como a renúncia da Ucrânia à adesão à Otan e a aceitação das atuais linhas de frente.
A suspensão da ajuda militar americana, justificada pela Casa Branca como uma medida para pressionar Zelensky a negociar, colocou a Europa em uma posição delicada. Países como Polônia e os Estados bálticos, que gastam proporcionalmente mais em defesa, estão reforçando suas fronteiras, enquanto a Otan planeja exercícios militares em 2025 para conter possíveis avanços russos. No entanto, sem o apoio logístico e financeiro dos EUA, a capacidade da Ucrânia de resistir à Rússia é severamente limitada.
Conclusão
A declaração de Trump de que “coisas acontecerão” reflete sua estratégia de pressão diplomática, mas carece de clareza sobre ações concretas. Enquanto o presidente americano busca um acordo rápido, sua abordagem unilateral e a suspensão da ajuda militar à Ucrânia geram tensões com aliados europeus e preocupações em Kiev. A possibilidade de concessões territoriais e a exclusão da Ucrânia de negociações cruciais podem minar a soberania do país, enquanto a resiliência econômica da Rússia limita o impacto de novas sanções. O futuro do conflito depende da capacidade de Trump de equilibrar suas promessas de paz com as demandas de Putin e as expectativas de Zelensky, em um cenário onde a estabilidade global está em jogo.