No dia 19 de abril de 2025, o Brasil perdeu uma de suas figuras mais carismáticas do mundo da moda e da beleza: Nabila Furtado, ex-miss Espírito Santo, faleceu aos 35 anos, deixando uma legião de fãs, amigos e admiradores em luto. Sua trajetória, marcada não apenas pela beleza, mas também pelo ativismo social, inteligência e sensibilidade, foi celebrada nas redes sociais e por veículos de comunicação de todo o país.
Com um perfil que fugia ao estereótipo da “miss tradicional”, Nabila se destacou desde cedo por unir imagem e propósito. Dona de uma presença marcante e uma voz ativa em temas como autoestima feminina, combate ao machismo e valorização da mulher negra, ela se consolidou como um nome relevante não apenas nos concursos de beleza, mas em debates importantes para a sociedade brasileira.
Sua morte precoce, cujas causas ainda não foram oficialmente divulgadas até o momento, gerou uma comoção nacional. Amigos próximos mencionaram que Nabila enfrentava questões delicadas relacionadas à saúde mental, o que reacendeu discussões sobre as pressões enfrentadas por mulheres públicas e a necessidade de cuidado integral com o bem-estar emocional.
Ascensão no mundo da beleza
Nascida em Vitória, capital do Espírito Santo, Nabila cresceu em um ambiente modesto, sendo a mais velha de três irmãos. Desde muito jovem, chamava atenção por sua postura elegante e senso de responsabilidade. Incentivada por uma professora do ensino médio, participou de seu primeiro concurso de beleza aos 17 anos e, embora não tenha vencido, foi ali que deu os primeiros passos rumo a uma carreira de visibilidade nacional.
Foi em 2011 que seu nome ganhou projeção ao vencer o concurso de Miss Espírito Santo. Representando o estado no Miss Brasil daquele ano, Nabila não levou a coroa nacional, mas conquistou os jurados e o público com seu discurso comprometido com a inclusão e representatividade.
Ela se tornava, naquele momento, uma das poucas mulheres negras a ocupar com protagonismo o cenário dos concursos de beleza no país — um espaço ainda profundamente marcado por padrões eurocêntricos e excludentes.
Pós-concurso: da passarela ao ativismo
Após o Miss Brasil, Nabila continuou atuando como modelo, mas fez uma transição natural para outras áreas. Tornou-se apresentadora de eventos culturais no Espírito Santo, participou de campanhas publicitárias com foco na diversidade e se engajou em projetos sociais voltados para jovens da periferia de Vitória.
Em entrevistas, dizia que seu maior orgulho era poder “abrir caminho para meninas que nunca se viram representadas”. Nabila entendia que a beleza, sozinha, não era suficiente. Acreditava que mulheres com visibilidade deveriam também ser agentes de transformação, e foi isso que buscou ser ao longo de sua vida.
Consciente de seu papel como figura pública, passou a ministrar palestras em escolas públicas, universidades e até presídios femininos, onde falava sobre autoestima, violência contra a mulher e empoderamento. “Ser miss é mais que carregar uma faixa. É carregar uma responsabilidade social”, disse em uma entrevista ao jornal A Gazeta, em 2015.
O impacto nas redes sociais
Nabila era ativa nas redes sociais, especialmente no Instagram, onde acumulava mais de 200 mil seguidores. Seus posts eram um misto de reflexões profundas, registros cotidianos, looks estilosos e mensagens motivacionais.
Em tempos em que as redes são dominadas por filtros e aparências, Nabila optava por mostrar vulnerabilidade. Falava abertamente sobre inseguranças, sobre os bastidores da carreira de modelo e, nos últimos anos, começou a abordar temas mais delicados, como ansiedade e crises emocionais.
Em uma publicação marcante de 2023, escreveu:
“Nem sempre estou sorrindo por dentro. Às vezes, a maquiagem cobre não só as olheiras, mas as dores também. Mas sigo, porque cada mulher que me lê merece saber que não está sozinha.”
Esse tipo de sinceridade a aproximava do público de uma forma rara. Muitos seguidores relatavam como se sentiam acolhidos e inspirados por suas palavras.
Envolvimento com causas sociais
Paralelamente à carreira midiática, Nabila foi voluntária em diversas ONGs e fundou, em 2018, o projeto “Espelho Meu”, que oferecia oficinas de autoestima para adolescentes negras em comunidades capixabas. O projeto, que começou de forma modesta, cresceu e passou a contar com apoio de empresas e parcerias com secretarias municipais.
Ela acreditava que a representatividade não deveria ser um fim em si, mas um meio para gerar mobilização social concreta. Sua atuação lhe rendeu prêmios de reconhecimento público, como o “Prêmio Negritude Ativa”, concedido pelo Governo do Espírito Santo, e o título de Cidadã Emérita de Vitória.
Em 2022, foi convidada a integrar o Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial, função que exerceu até 2024.
A luta silenciosa com a saúde mental
Apesar da imagem pública de força e inspiração, Nabila enfrentava uma batalha silenciosa contra transtornos mentais, segundo relatos de amigos próximos. Sofria de depressão e crises de ansiedade, quadro que se intensificou nos últimos dois anos, após episódios de ataques virtuais, rompimentos afetivos e pressão constante pelo corpo perfeito.
Em seus últimos meses, havia se afastado de compromissos públicos e feito poucas aparições online. Algumas postagens mais recentes levantaram preocupações entre fãs, que notaram um tom mais melancólico em suas palavras.
A família, em nota oficial, pediu respeito à privacidade nesse momento de dor e agradeceu o carinho recebido de todo o Brasil. O velório foi realizado em Vitória, com cerimônia aberta ao público e marcada por homenagens emocionadas.
Repercussão nacional
A morte de Nabila foi destaque nos principais veículos de comunicação do país. Famosos, modelos, jornalistas e políticos prestaram homenagens. A atriz Taís Araújo escreveu em suas redes: “Nabila era uma estrela que iluminava muito além da passarela. Uma mulher que falava com coragem, que acolhia com ternura. Que sua memória nos inspire a cuidar melhor uns dos outros.”
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, também se pronunciou: “Perdemos hoje uma liderança sensível e necessária. Que a dor dessa perda nos lembre da urgência de políticas públicas voltadas à saúde mental das mulheres negras.”
No Espírito Santo, o governo estadual decretou luto oficial de um dia e a Assembleia Legislativa realizou uma sessão solene em sua homenagem.
Reflexões após a tragédia
A morte de Nabila trouxe à tona uma série de debates que já vinham ganhando espaço na sociedade brasileira: a romantização da resiliência feminina, o capacitismo estético, o peso da expectativa pública e a negligência institucional diante do sofrimento psíquico.
Especialistas em psicologia e sociologia apontaram como o caso de Nabila ilustra o esgotamento emocional vivido por mulheres que, embora aparentemente bem-sucedidas, carregam sobre si o fardo da perfeição, da representatividade e da constante necessidade de se provar.
A psicanalista Juliana Moura, em entrevista ao UOL, disse que “quando a sociedade exige que mulheres negras sejam sempre fortes e inspiradoras, também invisibiliza sua dor. A força, nesse contexto, vira uma prisão.”
O episódio também serviu de alerta para o meio artístico e midiático. Diversas produtoras e agências de modelos anunciaram, após a repercussão do caso, medidas internas para oferecer acompanhamento psicológico a seus talentos.
Conclusão
A história de Nabila Furtado é, ao mesmo tempo, inspiradora e dolorosa. Inspiradora porque mostra a trajetória de uma mulher que desafiou padrões, abriu caminhos, tocou vidas e soube usar sua visibilidade para transformar realidades. Dolorosa porque revela o quanto ainda estamos distantes de uma sociedade que reconheça, acolha e cuide do sofrimento de seus membros mais expostos.
Aos 35 anos, Nabila nos deixou, mas seu legado permanece. Nas jovens que se olham no espelho e veem beleza em sua negritude. Nos projetos sociais que continuam seu trabalho. Nas conversas difíceis que sua ausência provocou. E, sobretudo, na urgência de construirmos uma cultura de afeto, escuta e empatia — especialmente com aquelas e aqueles que, mesmo sorrindo, carregam dores profundas.
A memória de Nabila Furtado ecoa como um chamado: para enxergar além da imagem, para cuidar do outro, para lutar por uma sociedade mais justa e, sobretudo, mais humana.