A dança das cadeiras no futebol brasileiro está longe de acabar, e um novo capítulo dessa movimentação pode estar prestes a acontecer. O Corinthians, em busca de um nome capaz de reorganizar o clube dentro e fora das quatro linhas, mira Dorival Júnior como principal alvo para assumir o comando técnico.
O nome do atual treinador da Seleção Brasileira figura como o preferido de uma ala significativa da diretoria alvinegra. Mas, apesar do desejo mútuo e da sintonia de ideias entre as partes, ainda há obstáculos que impedem o desfecho imediato da negociação.
A possível chegada de Dorival ao Parque São Jorge envolve não apenas aspectos técnicos ou financeiros, mas sobretudo questões políticas, institucionais e estratégicas. O cenário atual do Corinthians exige mais do que um bom treinador: é preciso alguém que tenha liderança, capacidade de blindagem e resiliência para lidar com as pressões de um clube em crise administrativa e esportiva.
Neste texto, analisamos os bastidores dessa negociação, o contexto que aproxima Dorival do Timão, os entraves que ainda impedem o acerto e o que realmente falta para que o nome do experiente treinador seja confirmado oficialmente como o novo técnico do Corinthians.
A situação atual do Corinthians: crise e transição
O Corinthians vive um de seus períodos mais turbulentos das últimas décadas. Em campo, o desempenho tem sido irregular, com eliminações precoces, atuações inconsistentes e uma constante troca de treinadores. Fora dele, a situação é igualmente preocupante: a dívida ultrapassa os R$ 900 milhões, a relação com parte da torcida organizada é instável, e a diretoria sofre com cobranças internas e externas por resultados e transparência.
Nos últimos meses, o clube viu a saída de António Oliveira após uma sequência de maus resultados e uma gestão considerada fraca nos bastidores. Desde então, a diretoria tem trabalhado em sigilo para contratar um nome de peso que seja capaz de não apenas treinar o time, mas liderar uma reconstrução estrutural e esportiva.
Nesse contexto, o nome de Dorival Júnior passou a ser considerado como ideal.
Por que Dorival Júnior?
Dorival é um nome que carrega peso e credibilidade no futebol brasileiro. Com passagens por clubes como Santos, São Paulo, Flamengo, Internacional e Athletico Paranaense, o treinador se notabilizou por sua capacidade de montar times organizados, recuperar jogadores desacreditados e manter a harmonia dos vestiários mesmo em contextos adversos.
Em 2022, foi protagonista da histórica campanha do Flamengo, conquistando Copa do Brasil e Libertadores. Posteriormente, aceitou o desafio de assumir a Seleção Brasileira em um momento delicado — após a saída de Fernando Diniz e a recusa de Carlo Ancelotti. Mesmo com pouco tempo de trabalho, Dorival conseguiu reequilibrar o time e recolocar o Brasil no caminho da classificação para a Copa do Mundo de 2026.
O Corinthians vê em Dorival não apenas um técnico experiente, mas um “gestor de crise”, alguém capaz de promover estabilidade, conduzir transições com inteligência e, principalmente, lidar com a pressão diária que o cargo exige.
Conversas iniciais e sinal verde
Fontes ligadas à diretoria do Corinthians indicam que houve, sim, contatos iniciais com pessoas próximas a Dorival Júnior. O próprio treinador, de maneira informal, teria sinalizado interesse em ouvir o projeto corintiano, desde que este fosse estruturado, transparente e com garantias mínimas de autonomia técnica.
No entanto, há um ponto importante: Dorival ainda tem vínculo formal com a CBF. Seu contrato com a Seleção vai até o fim de 2026, e qualquer saída neste momento exigiria uma rescisão — ou uma negociação que permita a liberação amigável. Embora a CBF não deva fazer jogo duro, uma eventual ruptura poderia causar desgastes na imagem do treinador, algo que ele deseja evitar.
Além disso, Dorival é conhecido por não aceitar projetos que julga mal planejados. Já recusou convites anteriores de clubes que não ofereciam uma estrutura compatível com sua filosofia de trabalho. Por isso, o Corinthians precisa apresentar mais do que uma proposta financeira: precisa convencer.
O que falta, afinal?
A pergunta central que move os bastidores neste momento é: o que falta para que Dorival Júnior seja o novo técnico do Corinthians?
A resposta, segundo fontes próximas à negociação, envolve três pontos principais:
1. Saída da Seleção Brasileira:
Dorival ainda está à frente da Seleção. Embora o interesse do Corinthians seja real e o treinador não descarte uma volta aos clubes, ele quer sair pela porta da frente. A CBF, por sua vez, está em meio a um momento de redefinições internas após o escândalo da operação Penalidade Máxima, que atingiu nomes do alto escalão do futebol nacional. Isso trava qualquer decisão imediata.
2. Garantias contratuais e projeto esportivo:
Dorival exige autonomia na montagem do elenco, participação nas decisões de reforços e segurança em relação a interferências políticas. O Corinthians ainda tenta reorganizar sua estrutura de futebol e não tem um diretor técnico consolidado — o que pode ser um fator de atrito.
3. Clima político interno no Corinthians:
A diretoria está dividida. Há quem veja em Dorival a solução ideal, mas também há resistência. Parte da oposição teme que a chegada de um nome de peso seja usada como blindagem política da gestão atual, que enfrenta críticas por má gestão financeira e ausência de resultados esportivos. Há uma batalha política subterrânea que pode interferir diretamente na contratação.
As opções em caso de negativa
Caso a negociação com Dorival não evolua, o Corinthians trabalha com alguns nomes alternativos. Entre eles, destacam-se Fernando Diniz (sem clube após saída da Seleção), Ariel Holan (ex-Santos) e Roger Machado. Nenhum desses nomes, no entanto, empolga os bastidores tanto quanto Dorival.
A torcida, por sua vez, está dividida. Enquanto uma ala apoia a chegada do técnico da Seleção, outra questiona se ele aceitaria um projeto instável neste momento da carreira. Alguns preferem um nome jovem, com ideias novas, enquanto outros querem um treinador que traga experiência e solidez.
Impacto em caso de chegada
Se confirmado como técnico do Corinthians, Dorival Júnior terá uma das missões mais difíceis de sua carreira. Precisará reconstruir um elenco limitado, resgatar a confiança de atletas desmotivados, pacificar o ambiente político e, acima de tudo, entregar resultados em curto prazo.
Mas, ao mesmo tempo, sua chegada pode representar uma virada de chave para o clube. Sua experiência, habilidade de comunicação e histórico vencedor são ativos valiosos. Além disso, Dorival tem bom trânsito com a imprensa e é respeitado até mesmo por torcedores rivais, algo raro no cenário atual.
Conclusão
A negociação entre Dorival Júnior e Corinthians ainda está em fase de avaliação, e muitos elementos precisam se alinhar para que o desfecho seja positivo. O desejo existe, tanto da parte do clube quanto do treinador, mas a complexidade da situação exige tempo, cautela e inteligência.
Mais do que contratar um técnico, o Corinthians precisa redefinir sua identidade. E, se Dorival aceitar o desafio, não será apenas mais uma mudança no banco de reservas — será o início de uma nova tentativa de reconstrução.
O futebol brasileiro, tão marcado por imediatismos e improvisos, talvez veja no desfecho dessa história um exemplo do quanto planejamento, diálogo e coerência ainda são fundamentais para qualquer projeto esportivo que se pretenda duradouro.