Com a morte do Papa Francisco em abril de 2025, a Igreja Católica se prepara para um novo conclave, o ritual secreto que definirá o próximo líder de mais de 1,3 bilhão de fiéis. Entre os 135 cardeais eleitores com menos de 80 anos, um nome se destaca não apenas por sua juventude, mas também por sua trajetória singular: Mykola Bychok, o cardeal mais novo do Colégio Cardinalício, nomeado pelo Papa Francisco em 7 de dezembro de 2024. Aos 45 anos, Bychok representa uma nova geração de líderes eclesiais, com uma história marcada por resiliência, fé e um forte vínculo com a Igreja Greco-Católica Ucraniana.
Nascido em 13 de fevereiro de 1980, em Ternopil, na Ucrânia, Mykola Bychok cresceu em um país marcado por conflitos e transformações políticas. Sua vocação religiosa surgiu cedo, levando-o a ingressar no Seminário Redentorista em 1997. Ordenado sacerdote em 2005, Bychok dedicou seus primeiros anos ao serviço pastoral na Ucrânia, trabalhando em comunidades locais e aprofundando sua formação teológica. Em 2020, foi nomeado bispo da Eparquia Ucraniana dos Santos Pedro e Paulo, em Melbourne, Austrália, uma posição que o colocou no radar do Vaticano. Sua nomeação como cardeal em 2024, aos 44 anos, foi um marco histórico, tornando-o o mais jovem integrante do Colégio Cardinalício.
Bychok é um símbolo da universalidade da Igreja Católica, uma prioridade do pontificado de Francisco, que nomeou cardeais de regiões periféricas para diversificar o Colégio Cardinalício. Como líder da Igreja Greco-Católica Ucraniana na Austrália, ele representa uma tradição oriental em comunhão com Roma, trazendo uma perspectiva única ao Vaticano. Sua experiência em um país devastado pela guerra com a Rússia desde 2014 também o posiciona como uma voz relevante em questões de paz, justiça social e diálogo inter-religioso, temas centrais no legado de Francisco.
Apesar de sua juventude, Bychok é descrito como um líder carismático e pastoral, qualidades que o tornam um potencial “papabile” – termo italiano para cardeais considerados candidatos ao papado. No entanto, sua curta trajetória como cardeal e a predominância de cardeais europeus e mais experientes no conclave podem ser obstáculos. Especialistas, como o vaticanista John Allen, destacam que, embora qualquer homem católico possa tecnicamente ser eleito papa, desde 1379 apenas cardeais foram escolhidos, e a preferência recai sobre figuras com maior visibilidade no Vaticano.
A possibilidade de Bychok se tornar papa é reforçada por sua proximidade com o legado de Francisco. Durante sua breve passagem como cardeal, ele demonstrou apoio às reformas do papa argentino, incluindo a ênfase na sinodalidade – um modelo de governo eclesial mais colaborativo – e na atenção às periferias geográficas e sociais. Sua experiência como bispo em Melbourne, lidando com uma comunidade diaspórica ucraniana, reflete a abordagem pastoral de Francisco, que valoriza líderes próximos ao povo. Além disso, sua fluência em ucraniano, inglês e outras línguas facilita sua comunicação em um conclave cada vez mais globalizado.
Por outro lado, a juventude de Bychok pode ser vista como uma desvantagem em um conclave que tradicionalmente favorece cardeais mais experientes, como Pietro Parolin, de 70 anos, ou Matteo Zuppi, de 69 anos, ambos cotados como favoritos. Além disso, a geopolítica da Igreja pode influenciar a escolha: após um papa sul-americano, especialistas sugerem que os cardeais podem buscar um líder de outro continente, como a Ásia ou a África, embora a Europa ainda domine o Colégio Cardinalício.
A nomeação de Bychok também reflete a atenção de Francisco à Ucrânia, um país em guerra que enfrenta desafios humanitários e espirituais. Como cardeal, ele tem defendido a solidariedade global com os ucranianos, uma postura que pode conquistar apoio entre cardeais sensíveis às questões de justiça e paz. Sua formação redentorista, que enfatiza a missão e o serviço aos marginalizados, alinha-se com a visão de uma Igreja “em saída”, um conceito central no pontificado de Francisco.
Conclusão
Mykola Bychok, aos 45 anos, é uma figura singular no Colégio Cardinalício, combinando juventude, experiência pastoral e uma perspectiva oriental em um momento crucial para a Igreja Católica. Embora sua eleição como papa seja improvável no próximo conclave devido à preferência por cardeais mais experientes, sua nomeação sinaliza a visão de Francisco de uma Igreja mais diversa e global. Representando a Ucrânia e as periferias, Bychok tem o potencial de influenciar o futuro da Igreja, seja como eleitor no conclave ou, quem sabe, como um futuro líder. Sua trajetória é um lembrete de que o Espírito Santo, segundo a tradição católica, pode surpreender na escolha do próximo Sumo Pontífice.